[Crítica] O Homem Cordial

  
 
Sinopse: Aurélio é vocalista de uma famosa banda de rock que fez muito sucesso até o final dos anos 1990. Na noite de retorno de sua banda aos palcos, viraliza na internet um vídeo que o envolve na morte de um policial militar. Ninguém sabe o que de fato aconteceu, mas o astro passa a ser alvo de grupos radicais. Aurélio, então, se vê inserido em uma tensa e violenta jornada pelas ruas de São Paulo. Durante uma única noite, encontrará figuras importantes de sua carreira e Helena, uma jovem jornalista determinada a descobrir o que realmente aconteceu.

O que achei? Dirigido por Iberê Carvalho e com roteiro também de Iberê Carvalho e Pablo Stoll, O Homem Cordial é um filme bem atual apesar de ter sido produzido em 2019.

O longa começa com um tema muito presente nos dias de hoje onde, com o aumento da presença e influência das redes sociais, o que acontece no mundo real acaba refletindo no mundo virtual, a conhecida cultura do cancelamento.

De início, não temos o contexto do que realmente aconteceu para o vocalista Aurélio (interpretado por Paulo Miklos) ser cancelado e perseguido por grupos radicais e influenciadores que se alimentam de polêmicas do momento para aumentar o engajamento em suas redes sociais. A informação que temos é baseada na reação dessas pessoas que acusam Aurélio de defender bandido e culpando-o pela morte de um policial. Tudo o que temos é um vídeo que viralizou na internet mostrado no começo do filme, mas sem muito contexto sobre o que realmente aconteceu.

Á partir do segundo ato do filme, começamos a ver a construção de um contexto do que realmente aconteceu e da cultura do cancelamento passamos para o tema do racismo e violência policial contra pessoas negras que vivem nas comunidades.

Aurélio, ao conhecer uma jornalista negra e ativista que está investigando o desaparecimento do filho de uma moradora da comunidade, entra em uma realidade diferente da dele, onde ele passa a ter consciência de algo que nunca tinha notado: o privilégio branco. Isso é demonstrado perfeitamente quando ele é chamado ao palco para um duelo free style de rap com uma MC e ele não tem resposta para as rimas da rapper, saindo assim do palco. Essa cena foi como um soco no estômago.

O filme é um bom suspense político e que reflete de forma fiel a sociedade cada vez mais polarizada, os discursos intolerantes de influenciadores nas redes sociais, conteúdo divulgado e viralizado na internet sem contexto para criar reações calorosas e indignadas de usuários dessas redes, o que acaba por extrapolar o ambiente virtual para o real, afetando de forma inimagináveis as vidas das pessoas.

No final de O Homem Cordial, vemos o que realmente aconteceu com o menino desaparecido, as ações de Aurélio que causaram tanta hostilidade contra ele. A última cena do filme é aberta, deixando a interpretação por conta de quem assiste, mas dar pra ver o contraste entre o clima descontraído de um programa matutino e uma certa amargura e melancolia estampada na cara de Aurélio.

O Homem Cordial foi premiado em Gramado e Marsele e chega hoje, dia 11 de maio, aos cinemas com distribuição da O2 Play. 
 
Trailer:
 

 

Escrito por Michelle Araújo Silva
 
 

 



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