[News]Olhar Retrospectivo homenageia David Cronenberg

 

Uma das mostras mais queridas do Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba, que, em sua 12ª edição, ocorre de 14 a 22 de junho na capital paranaense, promete agitar ainda mais a programação dos amantes de cinema. O Olhar Retrospectivo deste ano se volta para um dos cineastas que melhor explorou a modificação dos corpos na tela, na interação entre maquínico e orgânico: David Cronenberg. 




Nascido em Toronto, em 1943, o cineasta canadense dirigiu 47 trabalhos ao longo de quase seis décadas. Frente ao desafio de propor um recorte dessa filmografia tão prolífica quanto provocadora, a mostra privilegiou os primeiros 25 anos da sua trajetória, exibindo sete de seus filmes mais representativos. Nessa carreira de interesses formais e temáticos consistentes, os filmes parecem nos convocar a olhar e ouvir o que há de mais perturbador e intrigante nas imagens.




O status de cult de sua filmografia não é por acaso. Suas obras flertam com gêneros reconhecíveis, particularmente a ficção científica e o cinema de terror, mas vão além (e a fundo) dos códigos convencionais. São filmes atravessados por uma crítica afiada à sociedade norte-americana em seus deturpados valores morais, examinando a profunda ambiguidade dos seus protagonistas. Não estão em jogo somente os chocantes efeitos gore.




O interesse está na imagem da deformação, mas também na reflexão sobre ela e, especialmente, sobre esses personagens que a olham fascinados e aterrorizados. No choque entre as seis sessões aqui reunidas, desenham-se linhas de força particularmente entre o experimento científico, e os embates instinto e máquina, “pureza” e hibridismo. Aqui, o que é entendido como propriamente humano - física e eticamente - vai se tornando uma coisa outra, assim como a tecnologia é invadida pelo orgânico, num caminho sem volta. 




Desenvolvem-se na mostra três eixos que organizam momentos distintos dessa filmografia. O primeiro diz respeito à fase inicial da carreira do diretor, em experimentações que já anunciavam os temas e gestos que seriam perseguidos nas décadas seguintes. Desses, serão exibidos Ralo acima (1967), um de seus primeiros curtas, junto a Calafrios (1975), o terceiro longa de Cronenberg e o primeiro a ter sucesso comercial. Operando na chave do horror com o mote de parasitas invasores de corpos, foi essa a obra a projetar o realizador para além das fronteiras canadenses. 




Após a repercussão dos primeiros filmes, Cronenberg adentra o mercado Hollywoodiano aprofundando seus interesses visuais, entre projetos pessoais e outros encomendados. As transformações corporais e os duelos entre instinto e racionalidade ganham outro tom e desembocam em Videodrome (1983), ponto de virada que consolida a sua estilística singular. “Vida longa à nova carne!”, diz o lema que atravessa a trama do filme, demonstrando uma auto-consciência subversiva das imagens de violência, entre a repulsa e a sedução, num contexto dominado pelas grandes corporações. Essa guinada leva ao segundo eixo da mostra, que exibe outros dois longas da década de 1980: A Mosca (1986) e Gêmeos: Mórbida Semelhança (1988). 


Diferente dos filmes iniciais, em que o enfoque estava nas cobaias de experimentos sociais, a atenção se volta agora para esses homens “criadores”, que reconfiguram os limites do que é monstruoso. Nos protagonistas de A Mosca e Gêmeos, um novo ego assume o primeiro plano, em que a genialidade se confunde com a perversidade de seus desejos e obsessões. As implicações éticas e psicológicas desses experimentos tornam-se cada vez mais atraentes para a câmera. Seth Brundle, o cientista de Jeff Goldblum, e os gêmeos médicos Mantle, de Jeremy Irons, perseguem uma evolução humana alcançada por meios inescrupulosos e permeada pelo desenvolvimento de corpos híbridos. 


Já o último momento da mostra traz filmes em que o maquínico é explorado em toda a sua potência de sensualidade. Em Crash: Estranhos Prazeres (1996) e eXistenZ (1999) o erótico extrapola os contornos do corpo, ganhando materialidade em objetos e mecanismos que conduzem a experiências sensoriais limítrofes. A busca do controle pela via da tecnologia dá lugar a outras configurações corpóreas e novas cavidades. Em Crash, o automobilismo e a excitante velocidade tornam-se catarse e estímulo sexual; o impulso que leva ao gozo se assemelha àquele que conduz à morte. Em eXistenZ, a possibilidade de habitar um outro mundo, o game acessado por implante corporal, introduz novas possibilidades de prazer, mas também uma deformação completa da realidade, a epítome das cicatrizes. É real a nova carne?




Máquina de cicatrizes, o cinema de David Cronenberg provoca e perturba sensações, convoca a abrir a imagem e os corpos e encará-los em carne viva. Entre o cinema popular e o nicho; entre o horror e o drama “eXistenZial”, o cineasta abre as portas de um mundo assustador, fascinante e sensual.




Lista de filmes - Olhar Retrospectivo




Máquina de Cicatrizes: o cinema de David Cronenberg




Ralo Acima


/From the drain 


Dir. David Cronenberg


Canadá / 1967 / 14min.




Calafrios


/Shivers


Dir. David Cronenberg


Canadá / 1975 / 87min.




Videodrome - A Síndrome do Vídeo


/Videodrome


Dir. David Cronenberg


Canadá / 1983 / 89min.




A Mosca


/The Fly 


Dir. David Cronenberg


Estados Unidos, Canadá / 1986 / 96min.




Crash: Estranhos Prazeres


/Crash


Dir. David Cronenberg


Canadá, Reino Unido / 1996 / 100min.




eXistenZ


/eXistenZ


Dir. David Cronenberg


Canadá, Reino Unido, França / 1999 / 97min.




Gêmeos: Mórbida Semelhança


/Dead Ringers 


Dir. David Cronenberg


Estados Unidos, Canadá / 1988 / 115min.




Credenciamento de imprensa




O credenciamento de imprensa para a cobertura do 12ª Olhar de Cinema está aberto e pode ser feito até dia 26 de maio pelo link: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfE0FelOU3fe2YM7X3H659KEmYrG3z96w9hgiAdOzJhdetnYw/viewform




Sobre o Olhar de Cinema




Desde 2012, o festival já exibiu cerca de 900 produções e levou mais de 150 mil pessoas às salas de cinema e mais de 30 mil pessoas para as sessões online, valorizando o cinema independente mundial.




O 12º Olhar de Cinema - Festival Internacional de Cinema é apresentado pelo Ministério da Cultura e conta com patrocínio do Banco Itaú, Uninter e Peróxidos do Brasil, apoios de Itambé, Credipar, Celepar e BRDE, apoio cultural do Cine Passeio e Projeto Paradiso, incentivos da Lei de Incentivo à Cultura, Fundação Cultural de Curitiba, Prefeitura de Curitiba e da Lei de Incentivo à Cultura - Ministério da Cultura.




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SERVIÇO

12º Olhar de Cinema - Festival Internacional de Curitiba

De 14 a 22 de junho de 2023

No site do Olhar de Cinema





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