[News] “BUILD UP”, PRIMEIRO DISCO SOLO DE RITA LEE, GANHA NOVA EDIÇÃO DE LUXO
“BUILD UP”, PRIMEIRO DISCO SOLO DE RITA LEE, GANHA NOVA EDIÇÃO DE LUXO
Com a capa gatefold, vinil terá cor azul marmorizado
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Por Guilherme Samora*
“Abram alas/ I wanna be a star!/ Sucesso, aqui vou eu”. É assim que Rita Lee abre o seu primeiro disco solo, “Build Up”, de 1970. A canção, inspirada nos clássicos musicais, ganhou o luxuoso arranjo de orquestra do maestro tropicalista Rogério Duprat. Muita gente enxergava na letra uma espécie de premonição ou ambição de Rita. A verdade é que ela compôs a canção inspirada no musical “Build Up Eletronic Fashion Show”, do qual era a protagonista. Explica-se: como a gravadora Philips notava em Rita o enorme potencial como estrela solo, aproveitou-se a primeira separação dos Mutantes, em 1970, e a convenceu a fazer musicais. Eles aconteciam na FENIT, uma espécie de precursora da São Paulo Fashion Week, que promovia a indústria têxtil nacional através de desfiles e shows.
Com o sucesso de “Nho Look”, o primeiro musical de Rita no evento, a gravadora resolveu investir ainda mais. O segundo espetáculo viria acompanhado do lançamento de um disco, com coordenação de produção de Manoel Barenbein. E, assim, nasceu “Build Up”: a história de uma moça simples que tinha o sonho de se tornar uma estrela. O disco, relançado pela Universal Music, é luxuoso. Além do vinil azul translúcido marmorizado, vem com a famosa capa gatefold (capa dupla original), que na época do lançamento foi restrita a poucos exemplares. Depois, era encontrado apenas em capa simples.
Rita contou, na época, que achou um devaneio a convidarem para cantar em musicais. Mas, aceitou. E, misturando rock, música latina, orquestra e gospel, o disco nos entrega um dos mais belos registros vocais de uma Rita muito jovem. Prova disso é a gravação de “Calma”, a segunda música do LP, de Arnaldo Baptista. Quando o disco começou a ser produzido, os Mutantes decidiram voltar e Arnaldo acabou participando da produção e assinou duas canções com Rita. Mas o grande parceiro da estrela nesse LP foi o músico e taxista Élcio Decário. Rita o conheceu ao pegar um táxi e, ao saber que compunha, quis logo conhecer algumas de suas músicas. Adorou e começaram a trabalhar juntos.
Delicada e genial, “Viagem ao fundo de mim”, só de Rita, bem que poderia ser uma canção de amor. Mas descreve uma experiência com LSD. Fechando o lado 1, “Precisamos de Irmãos” e “Macarrão com linguiça e pimentão”, que é, literalmente, uma receita cantada. O deboche é uma crítica à ditadura militar, uma vez que os jornais passaram a publicar receitas no lugar de notícias censuradas e Rita decidiu fazer o mesmo em seu disco. O LP foi gravado no Estúdio Scatena, na região central de São Paulo, e traz guitarras de Lanny Gordin.
O lado 2 começa com o primeiro grande hit de Rita: “José”. A música, versão de “Joseph”, de Georges Moustaki, foi um presente de Nara Leão e chegou ao número 1 nas rádios. Mas, segundo contou Rita anos depois, o mais importante foi notar que, finalmente, havia gravado uma música que agradou Chesa, sua mãe. “Hulla-Hulla”, doce e deliciosa canção extraterrena de Rita e Élcio, é um dos momentos mais geniais do disco. Ela abre caminho para uma versão suingada e urgente de “And I Love Him” (“And I love her”, dos Beatles).
“Tempo Nublado” é a próxima, seguida de “Prisioneira do Amor”, um tango hilário, com interpretação inspiradíssima de Rita e com arranjo de Duprat. “Eu vou me salvar”, um rock gospel, fecha o disco de maneira primorosa, nonsense e debochada. Um primeiro disco perfeito da garota que se tornaria o maior nome do rock brasileiro.
*Guilherme Samora é jornalista, editor e estudioso do legado cultural de Rita Lee
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