[News] PREMIADO FILME DE PAULA GAITÁN, LUZ NOS TRÓPICOS, É EXIBIDO EM NITERÓI E NO RJ
Dando sua sequência em sua exibição pelo país, LUZ NOS TRÓPICOS terá sessões em Niterói, no Cine Arte UFF (R. Miguel de Frias, 9 - Icaraí, Niterói), no dia 26 de agosto, às 17h, e na cidade do Rio de Janeiro, no Espaço Itaú de Cinema Botafogo (Praia de Botafogo, 316), no dia seguinte, 27 de agosto às 19h30. Numa estratégida ousada, a distribuidora Descoloniza Filme lança o longa de forma diferenciada, fazendo um tour com a obra por várias cidades do Brasil, promovendo encontros com a diretora e o elenco.
O longa começou sua trajetória em festivais, tendo início no 70º Berlinale Forum e percorreu inúmeros outros no exterior e no Brasil, dentre eles o 9º Olhar de Cinema – no qual levou prêmio de Melhor Filme. Considerado o auge de uma jornada pessoal e criativa, é um projeto de magnitude épica, com pouco mais de 4 horas de duração, trata-se de um filme navegante, como um rio sinuoso, um testemunho da rica vegetação das Américas e das populações nativas do continente, uma fusão intrincada de narrativas e estéticas, reforçando o talento de Gaitán como uma artista multidisciplinar, que rompe barreiras entre gêneros e alarga as fronteiras da percepção cinematográfica.
“LUZ NOS TRÓPICOS talvez seja atravessado por vários outros filmes meus, o filme trabalha com vários suportes que vão do digital à película, do super 8 ao 16 mm. Trata-se de uma longa síntese de universos evocados em outros filmes anteriores, porém já com a maturidade que corresponde a quase 40 anos de trabalho ininterrupto em cinema e imagens em movimento”, explica a cineasta.
Em LUZ NOS TRÓPICOS Gaitán explora a relação entre seu olhar e o que é observado, servindo seu próprio fluxo de imaginação em relação ao mundo que a rodeia. Para o público é uma oportunidade única de apreciar o filme em tela grande e vivenciar o êxtase cinematográfico proporcionado pelo trabalho de Gaitán.
“A viagem fluvial foi inspirada pela expedição Langsdorff que refizemos parcialmente em 2018, muito menos ambiciosa que a expedição original. A grande inspiração para esse desafio, que é predominante na minha visão em 'Luz nos Trópicos', é a visão indígena, encarnada no personagem central do filme, Igor (Begê Muniz), que vai ao reencontro de seu povo, atravessa um continente congelado para retornar à sua aldeia localizada no Alto Xingu, na nação Kuikuro”, explica a diretora.
O longa tem sido muito bem recebido pela crítica especializada. “LUZ NOS TRÓPICOS revela uma ambição autoral rara em nossos dias. Gaitán transita por linguagens e registros diferentes, mescla tudo sob forma de uma rapsódia colonial e explora regiões obscuras do nosso inconsciente terceiro-mundista. [...] Merece muitas revisões e muita discussão”, escreveu Luiz Zanin Oricchio em O Estado de S. Paulo.
Ficha Técnica
Brasil | 2020 | Ficção | 260 min.
Direção, roteiro e montagem
Paula Gaitán
Direção de fotografia
Pedro Urano
Elenco
Carloto Cotta, Clara Choveaux, Begê Muniz, Kanu Kuikuro, Maíra Senise, Arrigo Barnabé, Vincenzo Amato, Daniel Passi, Erik Martincues, Nilton Amazonas, John Scott-Richardson, Jack Manley, Vitor Aurape Peruare, Carolina Virgüez, Paulo Nazareth
Produção Executiva
Vitor Graize
Produtores
Vitor Graize, Eryk Rocha, Paula Gaitán
Desenho de Som
Marcos Lopes, Tiago Bello, Paula Gaitán
Som Direto
Marcos Lopes
Direção de Arte
Diogo Hayashi
Figurinos
Maíra Senise
Maquiagem
Leon Gurfein
Assistente de Direção
Manuel Moruzzi
Produtora
Aruac Filmes
Coprodutora
Pique-Bandeira Filmes
Produtora Associada
FM Produções
Sinopse: Em Luz nos trópicos, a cineasta Paula Gaitán tece uma densa estrutura de histórias e linhas do tempo, enredada por cosmogonias indígenas, cadernos de viagem e literatura antropológica. O filme é um tributo à abundante vegetação das Américas e às populações nativas do continente. Um filme de navegação livre como um rio sinuoso.
Festivais e prêmios
Première Mundial - 70º Berlinale Forum
Lima Alterna Festival Int. de Cine – Prêmio de Melhor Filme Ibero Americano
9º Olhar de Cinema - Prêmio de Melhor Filme
Cámara Lúcida – Encuentros Cinematográficos (Equador, 2020)
14º CineBH – Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte
24ª Mostra de Cinema de Tiradentes
18º DocLisboa
Cinema Brasileiro Anos 2010 – 10 Olhares (Brasil, 2021)
10ª Mostra Ecofalante de Cinema – Menção Honrosa
Filmadrid – Festival Internacional de Cine 2021
Frontera Sur - 4º Festival Internacional de Cine de No_Ficcion (Chile)
Sobre a diretora
Paula Gaitán nasceu em Paris, em 1954, e cresceu entre a Colômbia, o Brasil e a Europa. Seu pai, Jorge Gaitán Durán, foi poeta. Sua mãe, Dina Moscovici, foi escritora, diretora de teatro e cineasta. Rodeada por diferentes formas de arte e movendo-se constantemente de lugar em lugar, Paula transformou esse estado de motusperpétuo (para lembrar o título do último romance de sua mãe) no coração de seu trabalho artístico. No interior dos filmes de Paula, é possível reconhecer seu trabalho como poeta, como fotógrafa e artista visual, sempre a irrigar seus gestos cinematográficos.
Povoados de fragmentos literários e imagens de arquivo, performances marcantes e usos extraordinários do som, experimentos abundantes com texturas e composições de cor, seus filmes frequentemente nos lembram que o cinema pode ser um lugar de fronteiras fluidas.
Seja em filmes, obras para a televisão, videoclipes ou instalações, o mundo de imagens moventes construído por Paula é uma força de deslocamento contínuo e troca infinita.
Em Uaka (1989), seu encontro com os povos indígenas do Xingu torna-se uma exploração sensorial da paisagem, potencializada por um exuberante trabalho com as cores resultantes da filmagem em 16mm. Em Diário de Sintra (2007), obra em que a cineasta revisita seus últimos meses passados com Glauber Rocha e seus filhos Ava e Eryk em Portugal no final dos anos 1970, a câmera funciona como uma espécie de instrumento tátil, esfregando superfícies e auscultando espaços, enquanto fragmentos de textos filosóficos, memórias e poemas preenchem a banda sonora. Em Vida (2008) e Agreste (2010), respectivamente dedicados às atrizes Maria Gladys e Marcélia Cartaxo, Paula desenvolve uma forma única de retratismo experimental, que terá continuidade em filmes como Sutis interferências (2016), É rocha e rio, Negro Leo (2019) e Ostinato (2021).
Gaitán se aproxima de artistas plásticos, músicos, atrizes e atores, e fabrica um método muito peculiar de estabelecer uma relação entre o retratado e a retratista, tomando emprestados aspectos formais da obra de quem é filmado e traduzindo-os em gestos cinematográficos. Em Sutis Interferências, tudo o que costuma ser descartado na banda sonora de um documentário – as palavras sobrepostas, os momentos de desacordo, o barulho do ar-condicionado – é assumido por Paula como o tema principal do filme. Ela empresta o leitmotiv da interferência, presente na obra musical de Arto Lindsay, e o traduz para o cinema, trabalhando com uma fotografia altamente contrastada, abusando dos sons justapostos e de uma montagem em múltiplas camadas.
Seus filmes têm um aspecto aparentemente contraditório: são ao mesmo tempo etéreos e densamente físicos. Como em Noite (2014), são evocações imaginativas, mas ao mesmo tempo estão sempre enraizados no investimento do corpo, na materialidade das fotografias, nas texturas dos tecidos, na presença física da paisagem. Na instalação Se hace camino al andar (2021), o deslocamento se torna motivo visual e premissa fílmica, e a paisagem cresce como presença física ao mesmo tempo em que a duração transforma a coreografia repetitiva em abstração.
Mesmo em ficções narrativas ambiciosas e robustas como Exilados do vulcão (2013) e Luz nos trópicos (2020), o desejo de contar uma história é sempre contrabalançado por um pulso experimental. Nesses filmes, o edifício ficcional ergue-se inteiro e altivo, apenas para desmoronar em mil pedaços. A construção minuciosa da cena dá lugar a um amálgama dissonante de performances, derivas na epiderme das coisas, variações abstratas. A impressão mais marcante diante desses filmes é a de uma obra orgulhosamente rasgada por dentro, cujas entranhas somos convidados a habitar. Paula Gaitán sempre praticou um cinema que eleva o esboço à mais alta densidade artística. Seus filmes são ao mesmo tempo precisos, extremamente rigorosos e capazes de produzir a impressão vívida de um ateliê aberto à invenção.
Na obra de Paula, para manter o vigor da descoberta, é preciso livrar-se de qualquer pretensão de totalidade.
Extraído do texto "Paula Gaitán: fronteiras fluidas, amálgamas dissonantes", de Victor Guimarães.
Publicado originalmente no livro anual do Berliner Künstler Programm do DAAD, Alemanha, 2022.
Sobre a distribuidora
Fundada em 2017 por Ibirá Machado, a Descoloniza Filmes nasceu com o propósito de equiparar a distribuição de filmes dirigidos por mulheres e que tragam novas propostas narrativas e temáticas, contribuindo com a construção de uma nova forma de pensar. Em 2018, a Descoloniza lançou o filme argentino "Minha Amiga do Parque", de Ana Katz, vencedor do prêmio de melhor roteiro no Festival de Sundance, "Híbridos - Os Espíritos do Brasil", de Priscilla Telmon e Vincent Moon, o chileno "Rei", de Niles Attalah, vencedor do grande prêmio do júri no Festival de Roterdã, e "Como Fotografei os Yanomami", de Otavio Cury. Em 2019 codistribuiu junto à Vitrine Filmes a obra "Los Silencios", de Beatriz Seigner, e levou aos cinemas "Carta Para Além dos Muros", de André Canto. Durante a pandemia, lançou diretamente no streaming os filmes "Saudade Mundão", de Julia Hannud e Catharina Scarpellini, e "Castelo de Terra", de Oriane Descout, retomando os lançamentos em salas no segundo semestre de 2021, com "Cavalo", de Rafhael Barbosa e Werner Sales, "Parque Oeste", de Fabiana Assis, e "Aleluia, o canto infinito do Tincoã", de Tenille Barbosa. Em 2022 realizou os lançamentos de "Sem Rosto", de Sonia Guggisberg, e "Gyuri", de Mariana Lacerda, "Aquilo que eu Nunca Perdi", de Marina Thomé, e “Êxtase”, de Moara Passoni. Em 2023 lançou “Muribeca”, de Alcione Ferreira e Camilo Soares, “Para’í”, de Vinicius Toro, e “Seus Ossos e Seus Olhos”, de Caetano Gotardo, e prepara os lançamentos de “Luz nos Trópicos”, de Paula Gaitán, "Para Onde Voam as Feiticeiras", de Eliane Caffé, Carla Caffé e Beto Amaral, “Empate”, de Sergio de Carvalho, dentre outros.
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