[News] GRANDES E ASCENDENTES ESTRELAS CELEBRAM A BOSSA NOVA REVISITANDO O INESQUECÍVEL SHOW NO CARNEGIE HALL, EM NOVA IORQUE
GRANDES E ASCENDENTES ESTRELAS CELEBRAM A BOSSA NOVA REVISITANDO O INESQUECÍVEL SHOW NO CARNEGIE HALL, EM NOVA IORQUE
Estrelado por Roberto Menescal, Alaíde Costa, Carlinhos Brown, Seu Jorge, Carol Biazin, Daniel Jobim e a britânica Celeste, o álbum chega hoje (31) às plataformas de streams, via Universal Music
Ouça e baixe aqui: https://umusicbrazil.lnk.to/ TheGreatestNightBossaNova
Mais que um registro histórico de uma noite mágica, “The Greatest Night Bossa Nova” é prova emocionante da atemporalidade e da força da música do Brasil. Ao longo das 16 faixas do álbum gravado ao vivo no Carnegie Hall, em Nova Iorque, em outubro de 2023, um grande time de artistas e músicos celebra um catálogo precioso de hits globais e standards, evocando o mítico concerto realizado em 1962 que ajudou a fazer decolar mundialmente a bossa nova e seus dois gênios maiores, Tom Jobim e João Gilberto.
No palco, nomes legendários da bossa, como Roberto Menescal e Alaíde Costa ganharam a companhia talentosa de Daniel Jobim (neto de Tom) e de dois dos maiores astros globais brasileiros, Carlinhos Brown e Seu Jorge, e o reforço de jovens estrelas como a cantora paranaense Carol Biazin, 27 anos, e a britânica (nascida na Califórnia) Celeste, 30 anos, uma das vozes mais impressionantes reveladas nos últimos cinco anos.
Max Vianna, produtor do disco e do show, comenta: “Desde 1962, todo mundo tentava fazer algo assim e esbarrava em uma série de dificuldades e complexidades. Mas a gente finalmente conseguiu encontrar, a partir do trabalho de Seu Jorge com Daniel Jobim, uma solução artística e com apelo para produzir um show no local. Foi muito importante ter Menescal, que é um cara importantíssimo na música brasileira e que segue fazendo da bossa nova algo vivo e mutante, assim como foi ter Alaíde Costa, dar a possibilidade de trazê-la para um lugar que acolheu a música brasileira, e também apontar para o futuro, com a Carol Biazin e a Celeste. E, claro, ter também o Brown, um dos artistas brasileiros mais incríveis e versáteis, que conheci como percussionista da banda de meu pai”.
“The Greatest Night Bossa Nova” mostra a bossa nova com molduras clássicas, mas como um gênero vivo, potente e influente, que ecoa no trabalho de artistas novíssimos, como Billie Eilish. Para Roberto Menescal, um dos artífices do gênero, que participou do concerto de 1962, tocando (e cantando) “O Barquinho”, vai além: “É como um panorama da música brasileira mais de 60 anos depois, com vários tipos de artistas e talentos. Mostra que a música brasileira hoje é maior, tem diversidade e segue se transformando”.
Um movimento presente, mas ancorado na força emocional de um repertório com precioso lastro na memória afetiva brasileira (e de várias gerações de estrangeiros). A vibração do público no teatro, cerca de 2.7 mil pessoas, é coadjuvante em várias das faixas, ganhando o protagonismo no encerramento apoteótico, com todos cantando “Garota de Ipanema” em ótimo português. A cantoria feliz, na verdade, começa aos dois minutos da canção de abertura, “Chega de Saudade”, quando Daniel Jobim dá a deixa, pedindo: “Vocês...” E entram no mínimo duas mil pessoas entoando “vai, minha tristeza...”, junto com ele e com Seu Jorge.
Logo em seguida vem um momento musicalmente lindo e ecumênico, “Samba do Avião”, que começa com a citação de “Oração a Xangô”, parceria abençoada de Tom Jobim e Dorival Caymmi, pedindo proteção na ponte aérea de preenchimento harmônico entre Jobim, Debussy e Villa-Lobos (com carinho total de Daniel Jobim na ancestralidade nobre). Os dotes performáticos de Seu Jorge, em voz e tamborim, dão um molho diferente a “Só Danço Samba”, outro destaque do set inicial, conduzido por ele e Daniel.
No standard internacional “Samba de Verão” (de Marcos e Paulo Sérgio Valle), acompanhada por Roberto Menescal, Carol Biazin se mostra amadurecida e luminosa, justificando o status de grande revelação no cenário desta década. Honrando os laços afetivos com a canção, usa bem o timbre grave, a voz cheia, mas sem nasalidade e com as palavras bem articuladas. “Cantou bem demais. Uma gracinha. E completamente diferente das coisas dela que eu vi no YouTube”, elogia Menescal.
Em “O Barquinho”, ele teve a chance de fazer seu acerto de contas com a história. Notório não-cantor, ela havia sido obrigado a encarar um microfone pela primeira vez num show no concerto de 1962, por obrigações contratuais. Nervoso, conseguiu errar a letra de seu maior sucesso. Nesse retorno, porém, descontraído, canta com suavidade, faz scat e brinca com o som do violão. Preferiu não trazer a guitarra, com que toca habitualmente a canção há décadas, para manter o “espírito” de 1962.
Outro momento com espírito de revisão, e um dos grandes destaques do show e do álbum, aplaudidíssimo, é Alaíde Costa reencontrando “Sabe Você”, joia criada por Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, para “Pobre Menina Rica”, em releitura milionária de significados, com Roberto Menescal ao violão. Aos 87 anos, depois de preterida pela indústria em vários momentos, ela teve vez.
Com a ousadia que sempre marcou sua trajetória, Carlinhos Brown trouxe seu arsenal criativo e o piano de Thiago Pugas para revisitar outro clássico, o hit global de 1959 “Manhã de Carnaval”, que havia sido um dos momentos mais aplaudidos no concerto de 1962 (quando foi interpretada pelo autor, Luiz Bonfá, ao violão, com o vozeirão de Agostinho dos Santos). Brown também traz para o repertório uma canção do século 21, “Ararinha” (que ele compôs para a animação “Rio”, de 2011), com alegria contagiante.
É acompanhada do violão precioso de Menescal que a anglo-americana Celeste brilha em um dos pontos altos do álbum. Com arrebatamento máximo, sem ornamentos desnecessários ou firulas, ela assombra traduzindo toda a dor expressa no clássico jobiniano “How Insensitive” (versão de “Insensatez”, de Tom e Vinicius), com direito a “por que você foi fraco assim, tão desalmado”, em português). Não é pouca coisa: Celeste se impõe com personalidade na canção que teve gravações memoráveis de gigantes do jazz como Ella Fitzgerald e Shirley Horn.
Seu Jorge e Daniel Jobim retornam para “duetar” em “Desafinado” e “Águas de Março”, com recepção eufórica do público, antes da apoteose de “Garota de Ipanema”, cantada por todos (Seu Jorge, Daniel, Brown, Alaíde, Celeste e Menescal). Ao final, fica ecoando pelo Carnegie Hall o coro com o verso de Vinicius de Moraes que ajuda a explicar a força mágica da música de um certo país: “por causa do amor/ por causa do amor”.
Pedro Só
Maio de 2024
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