[News] João Victor Toledo apresenta ao público “utopia queer” em O Sacrifício de Cassamba Becker
Créditos: Caio Oviedo |
Em sua dramaturgia de estreia, o ator João Victor Toledo convida o público a refletir sobre a crise político-cultural do país e o futuro do planeta através de uma perspectiva queer. A peça O Sacrifício de Cassamba Becker, escrita no início da pandemia, em 2020, tem direção e atuação do próprio João Victor em seu primeiro solo e conta com a colaboração de diretores como Murillo Basso, Marina Nogaeva Tenório e Cristiane Paoli Quito. A temporada, uma nova versão da peça, acontece de 10 a 25 de agosto, com apresentações aos sábados, 20h; e domingos, 19h, no Teatro Pequeno Ato.
Após uma residência em outubro de 2022 no Centro Cultural da Diversidade, O Sacrifício de Cassamba Becker fez sua primeira abertura no Festival MixBrasil no mesmo ano e recebeu o Coelho de Prata (Prêmio do Público) de Melhor Espetáculo do festival. A peça também foi uma das três selecionadas para uma residência no Rattlestick Theater de Nova York e fez três apresentações no Global Forms Theater Festival, em junho de 2023.
A peça se passa numa praia imunda onde vive Cassamba Becker, interpretada pelo próprio João Victor. Já de início ela informa a plateia ter sido um dia considerada a maior atriz do mundo. “A Cassamba surgiu da minha admiração por atrizes antigas, pela pessoa extraordinária que foi Cacilda Becker, e pela Cassandra, a princesa-vidente de Troia retratada na Ilíada”, conta o ator. Ao longo do espetáculo, ele brinca com diversos graus de representação e faz uso das linguagens da drag queen e do clown. No entanto, o trabalho não é um stand-up de drag nem um solo de palhaço. É um espetáculo tragicômico que se utiliza dessas máscaras para tratar de temas urgentes como a crise ambiental planetária e o apagamento da memória histórica e cultural brasileira.
A sustentabilidade e a precariedade são elementos centrais da encenação e atravessam todas as áreas da criação cênica. Nas versões apresentadas anteriormente em São Paulo e em Nova York, João Victor buscou trabalhar com o excesso de lixo para provocar a plateia a refletir sobre o atual quadro devastador que estamos projetando para o futuro do planeta. Cenário e figurino foram praticamente todos feitos de materiais coletados em lixos e caçambas de ambas as cidades. Para a nova versão, no entanto, o autor escolheu assumir o palco vazio e escolher apenas os elementos essenciais de todo esse lixo coletado para auxiliá-lo em cena. O boneco de Jair Bolsonaro, que recebia um fisting de Cassamba ao som de Villa-Lobos na versão brasileira de 2022, também ficou de fora. “Já me livrei daquele lixo”, diverte-se o ator.
A precariedade da peça não se relaciona apenas à questão ambiental. O desmantelamento generalizado das políticas culturais nos últimos dez anos também é tema central do espetáculo e se reflete, por exemplo, na figura da própria Cassamba Becker, uma grande atriz que vive numa situação de isolamento e escassez, e na referência constante ao incêndio do Museu Nacional no decorrer do espetáculo. Apesar do cenário catastrófico, João Victor vê na precariedade uma possibilidade de retrabalhar positivamente a realidade e de reafirmar a capacidade de reinvenção da arte e dos artistas do Brasil, que, mesmo em condições adversas, seguem criando.
Além disso, assumir a precariedade dá lugar a uma teatralidade que se apoia no pacto de imaginação entre artista e público, o que, para ele, pode ser um modo de se exercitar o conceito de “utopia queer”, desenvolvido pelo americano José Esteban Muñoz, que o influenciou bastante na pesquisa do espetáculo. “Para mim, a Cassamba Becker é a materialização cênica do que poderia ser uma utopia queer: uma confusão, uma reconfiguração do tempo-espaço heteronormativo capitalista, uma ampliação do horizonte através da imaginação e do riso”, diz João Victor. “Um horizonte queer reconfigura a ideia de liberdade, desafia políticas moralizantes e propõe práticas solidárias e sexuais muito mais interessantes.”
SOBRE JOÃO VICTOR TOLEDO
João Victor Toledo é ator e palhaço. Formado em Teatro e História pela Universidade Livre de Berlim (2014), participou da “École des Maîtres” (2013) e é mestre em Estudos da Performance pela Universidade de Nova York (2022), onde recebeu o prêmio “Emerging Scholar Award”. Atualmente, é doutorando em Teatro e Performance na Universidade da Cidade de Nova York.
Na Alemanha, fez parte por três anos da companhia DorkyPark, da coreógrafa argentina Constanza Macras, de quem foi assistente em “Open for Everything” (2012), espetáculo com artistas oriundos de guetos ciganos da Hungria e da República Tcheca, que estreou no Festival de Viena (Wiener Festwochen). Foi ator da companhia de dança-teatro alemã Bryckenbrant em quatro espetáculos com artistas com Síndrome de Down, tendo se apresentado em diversos festivais pela Alemanha, como o Ruhrfestspiele Recklinghausen (2012). Trabalhou com a companhia inglesa Zecora Ura no espetáculo “Hotel Medea”, vencedor do Fringe Festival de Edimburgo (2011) e participante da Olimpíada Cultural do Southbank Centre de Londres (2012), e com o coreógrafo Tadashi Endo na obra “A Sagração da Primavera” (2013).
De volta ao Brasil, de 2014-15 foi professor de Teoria do Teatro na ELT - Escola Livre de Teatro de Santo André. Em 2016, entrou para o Teatro do Osso com o espetáculo “Canto Para Rinocerontes e Homens”, formatura da Escola de Arte Dramática (EAD-USP) dirigida por Rogério Tarifa, apresentando-se no Galpão do Folias, Itaú Cultural e na Plataforma Brasil da MITsp 2018. Com a companhia, foi contemplado pelo Prêmio Zé Renato (2017), pelo edital da Caixa Cultural (2017) e pela Lei de Fomento ao Teatro (2019).
Desde 2017 colabora com a coreógrafa e diretora Marina Nogaeva Tenório, com quem montou o diálogo “Górgias” (2017), de Platão, e a improvisação de dança “Silêncios” (2018), apresentando-se na Casa Líquida, CRD, Oficina Cultural Oswald de Andrade e Biblioteca Mário de Andrade. Também foi seu assistente na aula de Interpretação da Escola de Arte Dramática, em 2023.
De 2018-2022 estudou canto lírico com Andrea Kaiser, na Escola Municipal de Música de São Paulo (EMMSP), e desde 2016 estuda técnica de palhaço com Cristiane Paoli Quito. Em 2022, apresentou a performance “BEDTIME”, na Tisch School of the Arts, em Nova York, e escreveu, dirigiu e atuou no espetáculo “O Sacrifício de Cassamba Becker”. A peça estreou no Festival Mix Brasil de 2022, onde venceu o Júri Popular de Melhor Espetáculo, e participou do Global Forms Theater Festival do Rattlestick Theater de Nova York, em 2023.
SINOPSE
Cassamba Becker, a grande atriz, finalmente se aposentou e fez de lar o lixão de alguma praia perdida Brasil afora. De lá, ela observa as barbatanas fluorescentes das baleias e vislumbra um mundo mais vasto, sensual e iluminado. “Da insatisfação chegaremos à potencialidade coletiva”, disse certamente Dercy Gonçalves. Ou Gramsci. Pouco importa. O presente não basta. Só o entulho salva.
FICHA TÉCNICA
Direção, dramaturgia e atuação: João Victor Toledo
Direção de atuação: Marina Nogaeva Tenório
Provocação: Cristiane Paoli Quito e Murillo Basso
Direção de arte, cenário e figurino: Uibirá Barelli
Desenho de luz: Nara Zocher
Desenho de som: Zhaxi Danzeng
Produção: João Victor Toledo e Murillo Basso
Fotos de divulgação: Caio Oviedo
Também colaboraram em diferentes etapas da criação artística: Afonso Costa, Alexandre Martins, Anula Navlekar, Cris Rocha, Eugenia Cecchini, Jody Doo, Keren Chernizon, Mars Juno Bartolome Neri, Natasha Marie Rotondaro, Renan Ferreira, Renata Gaspar, Stefania Bulbarella, Timmy Ong, Vini Florido e Yang Yu.
SERVIÇO
O Sacrifício de Cassamba Becker, de João Victor Toledo
Temporada: 10 a 25 de agosto de 2024
Sábados, às 20h, e domingos, às 19h (6 apresentações)
Local: Pequeno Ato (Rua Dr. Teodoro Baima, 78 – República, São Paulo)
Ingresso: R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia)
Ingresso apoiador do projeto: R$ 50,00
Vendas online pelo Sympla e bilheteria local.
Capacidade: 40 lugares
Classificação: 14 anos
Duração: 60 minutos
Link p/ vendas: https://www.sympla.com.br/evento/o-sacrificio-de-cassamba-becker/2548394
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