[News]Reflexões e aprendizados contados na primeira pessoa
Reflexões e aprendizados contados na primeira pessoa
Eu sou a Aila, mulher cisgênero, branca, sócia-fundadora da Azeitona.
Entendi ao longo da minha vida e depois de, infelizmente, cometer erros, que por ser branca eu raramente precisava pensar sobre questões raciais.
A realidade (segundo estudos) é que, de maneira geral, pessoas brancas refletem sobre raça durante determinados períodos de tempo e por opção. E isso é um privilégio. Um privilégio branco.
O benefício da dúvida que algumas pessoas recebem só por fazerem parte de um grupo visto como "melhor" ou superior aos outros. Um benefício que pessoas não brancas não têm.
Uma ativista americana branca chamada Peggy, disse o seguinte: "Fui ensinada a ver o racismo apenas em atos individuais de maldade, e não em sistemas invisíveis que conferem dominância ao meu grupo." Estudiosos da branquitude definem o racismo como um sistema que abrange estruturas econômicas, políticas, sociais e culturais, ações e crenças que sistematizam e perpetuam uma distribuição desigual de privilégios, recursos e poder entre pessoas brancas e pessoas não brancas.
Li um artigo recentemente que dizia que "pessoas não brancas são quase sempre vistas como ‘tendo uma raça’ e descritas em termos raciais ("o homem negro"), mas brancos são descritos apenas como ("o homem"). Isso permite que os brancos se vejam como objetivos e não racializados". Dessa forma, raça e racismo se tornam problemas deles - das pessoas não brancas - não nossos. Desafiar essas estruturas torna-se uma espécie de choque indesejado para o sistema.
É possível que você já tenha me ouvido dar esse exemplo em alguma conversa realizada na pré-produção, mas ele ilustra bem o Clipping Azeitona dessa semana.
Eu estava entrando no avião com minha chefe (na época). Uma mulher negra. Estávamos viajando de classe executiva e ao entrar no avião, a comissária de bordo (uma mulher branca) pediu que minha chefe apresentasse o bilhete comprovando onde era o seu assento. Minha chefe, olhando para baixo, pegou dentro de sua bolsa o bilhete e apresentou para a moça sem fazer contato visual.
Colocamos nossas malas de mão no bagageiro. Eu peguei impulso e voltei para falar com a comissária. Perguntei, olhando no olho dela: o que te fez pedir o bilhete apenas para a minha acompanhante?
Ela disse: escolhemos os passageiros aleatoriamente, senhora.
Na sequência, perguntei: como você acha que uma pessoa não branca se sente quando ela é a única a receber esse tipo de solicitação.
A comissária ficou em silêncio por alguns segundos e respondeu: não foi a minha intenção. Não sou uma pessoa racista, senhora.
Eu disse: todas nós somos. Você faz a diferença quando para pra observar seus preconceitos inconscientes. Da próxima vez, pergunte aleatoriamente para pessoas brancas. Obrigada por me ouvir.
Ela agradeceu. Disse sentir muito e seguimos o voo.
Eu sinceramente não sei se ela decidiu estudar sobre o tema e se tem observado suas atitudes com outros passageiros e passageiras. Mas sei que eu até hoje me emociono quando conto essa história. Me emociono por ter ido lá falar com ela mesmo estando insegura, com a boca seca, sem saber se era o certo a ser feito. Com medo de não ter repertório para argumentar, medo de me deixar levar pela emoção. Medo de errar no tom, no conteúdo e na forma.
A verdade é que quando a gente é aliado de alguém, não é sobre nós. É sobre o outro. Sobre "muitos outros". E esse exercício faz todo mundo crescer. Todo mundo mesmo.
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Karollayne Dias - 55 24 999051730
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