No dia 3 de setembro, a Universal Music faz o lançamento de uma nova edição do antológico álbum “Gilberto Gil”, de 1969, que agora ganha uma versão em vinil azul. Saiba mais aqui: https://www.umusicstore.com/gilberto-gil .
Também famoso pelo apelido “Cérebro Eletrônico”, o terceiro LP do cantor e compositor Gilberto Gil foi gravado com urgência, a urgência necessária em 1969, e com audácia, o timão que Gil somou à régua e ao compasso que lhe foram dados pela Bahia para cruzar mares, ares, décadas, galáxias e dimensões.
Trabalho que reflete, na velocidade da fuga, sobre a modernidade e o futuro, é um álbum bem rock e bem Rogério Duprat (que assina a direção musical). Seu repertório, porém, está ancorado em referências de afeto e humanidade em duas canções imensas: o clássico “Aquele Abraço”, um dos maiores sucessos do país já em 1969, e “Cérebro Eletrônico”, atual como nunca, 55 anos depois.
Gestado em um momento histórico de fascinantes possibilidades novas (conquista do espaço, computadores, contracultura), o LP expande o tropicalismo abraçando uma linguagem rock (bastante abrasiva nas intervenções do guitarrista Lanny Gordin), com doses de blues e psicodelia. Obviamente, não falta brasilidade, garantida pelos DNAs de Wilson das Neves, na bateria, e do próprio Gil, ao violão.
Produzido por Manoel Barenbein, com arranjos de Rogério Duprat e Chiquinho de Moraes, o disco foi gravado em Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro, entre abril e maio de 1969. Gilberto Gil estava em prisão domiciliar e proibido de dar shows, depois de ter passado dois meses encarcerado no Rio — a semana inicial, em solitária.
Três das músicas foram compostas no quartel de Deodoro (zona oeste do Rio), segundo Gil, “sob enfoque ou delírio científico-esotérico”, com o violão emprestado por um dos guardas: “Cérebro Eletrônico” (regravada por Marisa Monte em 1996), a impressionante “Futurível” e a delicada “Vitrines”.
De malas prontas para o exílio na Inglaterra, Gil evoca um passado de passeios motorizados em família na Bahia, deixando recados para pai e mãe em “Volks-Volkswagen Blues”. Na confluência Mississipi-São Francisco da memória, também refaz em blues-rock o baião “17 Légua e Meia”, de Humberto Teixeira.
A última canção a entrar no disco foi um samba inspirado sob o impacto de sair da prisão, numa Quarta-Feira de Cinzas, e passar por uma cidade ainda em trajes carnavalescos: a vida no Rio continuava normal, continuava linda. Gil partiu do bordão do humorista Lilico, que estava na boca do povo carioca, mas que ele só conhecia pela boca de seus carcereiros: “Aquele Abraço”.
Lançada em compacto em agosto de 1969, a música estourou imediatamente. Antes de se consagrar como hino extraoficial do Rio e de uma ideia de Brasil, ecoou por todo o país como fenômeno pop, influenciando publicidade, discurso de políticos, ficção de TV... A partir de “Aquele Abraço” e deste LP, Gilberto Gil ganha nova estatura popular. No Brasil e na Via Láctea.
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