[News] Meio do Céu: um novo tipo de prosa brasileira

 

Meio do Céu (Assírio & Alvim), novo livro do escritor paulista Ubiratan Muarrek, apresenta o embate entre o Brasil Arcaico e o Moderno, numa Londres caótica, tendo como pano de fundo o acidente que aconteceu com um avião supersônico concorde (voo 4590), que explodiu no ar matando mais de 100 passageiros em 25 de julho de 2000.

O livro brinda os leitores com um novo tipo de prosa, com elementos inovadores e que bebe do teatro. Escrito no formato de um espetáculo teatral, eliminando, portanto, o narrador, Meio do Céu se situa, contemporaneamente, como um drama tragicômico, caracterizado por apresentar elementos cômicos e trágicos na sua composição - dentro de uma tradição que remonta à Grécia Antiga e que se instalou no coração da modernidade, em nomes como Antonin Artaud e Samuel Beckett.

Em Meio do Céu, as histórias passam a ser montadas por meio de várias vozes, inserindo-se, de acordo com a crítica literária Flora Süssekind, em uma nova vertente na literatura brasileira, na qual as obras são construídas na forma de um coral, com vozes dissonantes, na maioria das vezes.

A trama começa com o relato de um dia na vida de uma família de pernambucanos na Inglaterra, dentro do espírito do “castiga os costumes rindo”, com a roupagem do absurdo. Em Londres, duas amigas brasileiras, Sofitel e Greta, uma negra e uma branca, ambas vindas de um Recife assombrado pela escravidão e com um passado em comum, se encontram num parque na metrópole e travam um embate sobre acontecimentos que marcaram suas vidas, em diálogos entrecortados e, por vezes, “nonsense”.

A partir deste ponto, Muarrek constrói uma “cacofonia de palavras”, na definição do dramaturgo Léo Lama, que assina o texto de apresentação. Influenciado por Harold Pinter e

James Baldwin, com referências à literatura regional, como o Movimento Armorial de Ariano Suassuna, Meio do Céu sintetiza e prenuncia, com altas doses de sátira, a crise social, política e econômica que se instalou no mundo nas duas primeiras décadas do século 21. E Léo acrescenta que “difícil é não se enredar nessa trama, que vai envolvendo enquanto descostura nossas certezas”.

Para escrever seu livro e dar os contornos necessários às suas personagens, além de trabalhar a prosódia e os maneirismos regionais, Muarrek contou com uma consultora em “recifês”. “É o “idioma” mais lindo que conheço”, derrama-se. “Além de ser, de longe, o mais dramático”.

A foto de capa inspirou e acompanhou toda a escrita do livro. De autoria do fotógrafo alemão Wolfgang Tillmans, faz parte de uma série com 62 fotos coloridas do avião Concorde, em Londres - seja decolando, em pleno voo, já pousando e, às vezes, apenas asua silhueta como se fosse um pássaro metálico.

Racismo à brasileira permeia a história

Nas raízes da comédia há uma capacidade de perigo muito mais ameaçadora do que qualquer sentimento gerado pela tragédia. Tempos ameaçadores, arte ameaçadora – invés de arte ameaçada. Talvez este seja o sentido último da escolha tragicômica, entre as opções literárias, nesse já tão conturbado século 21”, conclui Muarrek.



Sobre Ubiratan Muarrek

Formado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduado em Mídia e Comunicação pela London School of Economics, na Inglaterra, e em Dramaturgia pelo Célia Helena (São Paulo), Ubiratan Muarrek é escritor, jornalista, produtor executivo de cinema e roteirista em desenvolvimento, já envolvido com filmes e documentários. Na sua carreira literária, Muarrek tornou-se conhecido pelos elementos de drama e tragicomédia, presentes em seu romance de estreia Corrida do Membro (Objetiva, 2007), e, novamente, na obra Um Nazista em Copacabana (Rocco, 2016), que esteve entre os semifinalistas do Prêmio Oceanos de 2017.


Dados catalográficos:

Meio do Céu (2024)

Editora Assírio e Alvim

Escrito por Ubiratan Muarrek

ISBN – 978-65-84832-21-3

210 páginas - Preço R$ 85,00






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